quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Reação em cadeia

Para Thiago Sobral e Sarah Junger


olhos fechados, abertos apenas para o ópio
linda forma de morrer vivo na teia,
na trama de impossibilidade
amarrados?
Apenas os sentidos!

domingo, 10 de outubro de 2010

Novamente sem título

Fora de mim minha metade!

Carrega contigo essa saudade

Fora de mim, vai veleja, navega, me erra

Meta-se fora, evapora, eva e pó,

Põe pra longe, desenrrola

Caia fora!


10/10/10

sábado, 9 de outubro de 2010

Suave Deslize

A chuva desliza suave no morro


Desliza a chuva no morro suave

Suave desliza o morro na chuva

Morro suave na chuva que desliza


Giordano Bruno Gonzaga

domingo, 1 de agosto de 2010

Eu tenho corações fora do peito!

O cotidiano nos massacra, é incrível como não temos tempo para nada. Perdi as contas de velhos amigos que vão ficando pelas fotos, e cartões de natal, outros tantos que a custo mantenho fazendo o cruzamento das agendas. São adultos, jovens adulterados, que trabalham, trabalham, estudam, estudam, e quando podem fazer um lazer nos encontramos em meio à multidão.

Eu também vivo nesta corda bamba, e me revolta termos que dar 06 ou 08 horas diárias do nosso tempo para o trabalho. O trabalho é humano, mas isto é desumano! O que sobra do meu dia, para fazer um exercício físico para minha saúde? O que sobra do meu tempo para me alimentar decentemente? O que sobra do meu tempo para ter as ideais 08 horas de sono? O que sobra do meu tempo para estudar? O que sobra do meu tempo para ler um bom livro que não seja o indicado pelo professor, ou ouvir uma boa música? Contabilizando o patrão nosso de cada dia nos leva bem mais de 08 horas diárias e não nos paga por essa mais valia extra, se é que posso ser redundante: são as 08 horas de trabalho e toda a preparação que antecedem e seguem: “eu acordo pra trabalhar, eu corro pra trabalhar, eu durmo pra trabalhar” diz a música dos Paralamas do Sucesso.

E assim, às vezes me dou conta de que cada tempo livre eu aproveito para dormir e fico angustiada com os livros empoeirando na estante, e com cada minuto que perco para o cansaço e o desânimo. Tem fases que eu fico tão deprimida que perco as horas, que o mal humor me ataca, esse trabalho repetitivo, sem a menor possibilidade de utilizar a criatividade, ser subutilizada me mata.

Até que um dia de domingo após a correria que está sendo este inverno, o sol reapareceu, e com ele o céu mais azul dos últimos tempos, como algo cinematográfico. Eu ouvia no mpb4, Los sebosos postizos cantando Domingaz: “Eu vou rezar para este domingo não chover, pois eu quero passear no parque de mãos dadas novamente com você” aquele clima domingaz me invadiu, e eu me senti tão feliz. De repente aquela vontade de morrer, ou de nunca ter existido que de vez em quando me abate deu lugar a uma consciência tremenda do lado muito bom da vida e das pessoas, lembrei de algumas viagens que fiz, lugares maravilhosos, como por exemplo o Vale do Catimbáu, se eu não existisse não veria aquilo, e me lembrei também que fui ao Rio de Janeiro e tive vontade de morar lá assim como aconteceu em Diamantina, ou quando simplesmente eu desejei que o tempo não passasse em Pedra do Xaréu. Eu não quero morrer antes de conhecer pelo menos um milésimo deste mundão.

Também fiquei viajando na quantidade de coisas que nós humanos construímos: cinema, que coisa maravilhosa, filmes como Cinema Paradiso, que eu sinto um nó na garganta só de lembrar, e as músicas, que coisa fantástica é criar arranjos, extrair de vários instrumentos um som, algo que me faz transcender; e os poemas, as prosas e as letras que como diz o mestre Milton Nascimento “que perguntar carece como não fui eu que fiz?”.

Por tudo isto, e toda essa alegria que hora me arrebatou, é que fiquei pensando nas vezes que amei, não foram muitas, mas foram intensas: gostar tanto de alguém que só de olhar pra essa pessoa seus olhos se derretem, a sensação deliciosa de desejar e de ser desejada, o toque, a recíproca. Quase que eu me esquecia disso tudo, pois o fim de um último grande amor trás o gosto de finitude, como se nada depois disso fertilizasse.

De uns tempos para cá, realmente eu vinha dando mais valor a ficar só, ia só ao cinema, ficava finais de semana sozinha sem nem procurar amigos, coincidiu com minha irmã indo morar com o marido e eu com o quarto só pra mim, sentindo prazer em arrumar as coisas ao meu modo, quase que eu me esqueci que ficar junto também é bom.

E foi assim, percebendo que além das coisas feias da vida que me revolta, me angustia, me deprime, existem tantas outras coisas boas de verdade, que me faz pensar igual aos novos baianos “besta é tu, besta é tu, porque não viver? Não viver este mundo, porque não viver? Se não há outro mundo... E pra ter outro mundo é preci-necessário viver. Viver contanto em qualquer coisa, olha lá, olha o sol...”

Decidi tirar o mofo e colocar o coração pra pegar um sol, o sol! Como as pessoas podem ser interessantes, engraçadas e inteligentes, como é bom voltar a sentir o frio na barriga, as dúvidas: ligo ou não ligo, será que ele liga? Como é bom ter esta ansiedade gostosa e saber que no mundo há mais gente legal do que se pensa, e que as pessoas estão aí à procura umas das outras.

Lembrei também dos amigos, estas pessoas que nos admiram, estimam mesmo sabendo dos nossos piores defeitos, se é que existem defeitos melhores. Penso o que seriam dos meus inimigos se não fossem os amigos deles. Por isso eu tenho corações fora do peito, como canta Gal Costa, e “eu tenho um beijo preso na garganta, eu tenho um jeito de quem não se espanta... eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz... e vou vivendo assim felicidade nesta cidade que plantei pra mim e que não tem mais fim, não tem mais fim, não tem mais fim”

E quase que eu me esqueci: seja bem-vindo em mim!

Do varal do quintal de casa, 01 de agosto de 2010.

Trilha sonora:
Capitão de indústria – Paralamas do Sucesso (cd nove luas de 1996)
Domingaz - Los Sebosos Postiços (Registro ao vivo do show noites do Ben)
Certas canções - Milton Nascimento
Besta é tu - Novos baianos (cd Acabou Chorare de 1972)
Mamãe coragem – Gal Costa (letra de Caetano Veloso e Torquato Neto – cd: Tropicália)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Chuva na berlinda

Seria a chuva malfazeja, intratável, meliante, recalcitrante? Seria ela a grande culpada por tantas mortes, tantas lágrimas e lástimas? Todo inverno é assim, ela aparece para absolver os pecadores, apedrejada e crucificada vai levando a culpa pela tragédia urbana que vivenciamos. É muito cômodo afirmar que a chuva tem vontade própria. Seres humanos também têm.

Não foi a chuva que empurrou contingentes populacionais pobres para os morros ou para as margens dos rios nos processos de urbanização, tanto das metrópoles como das pequenas cidades. Não, não foi ela.

Não foi a chuva que alterou o ecossistema, não foi ela que poluiu os rios, pelo contrário, ela foi poluída: chuva ácida. E sua acidez se tornou moral, estigmatizada, nas palavras de Goffmam um estigmatizado é alguém poluído moralmente.

Alguns de nós, pseudo-conscientes, argumentamos que a população pobre joga lixo nas encostas e barreiras. Com aquela nossa carinha de desaprovação afirmamos que isso é cultural, é preciso promover uma “conscientização”. Quando na verdade, esquecemo-nos que a elite, bem-cheirosa e educada, cuidou de higienizar a cidade, jogando para o morro o que ela considerava mais sujo: os trabalhadores, aqueles que suavam, e limpavam a sujeira da elite. Estes sim, foram jogados embaixo dos tapetes. A urbanização cuidou de fichar prostitutas, ora nas delegacias de costumes, ora sendo tratadas como caso de saúde pública. Moral e higiene andando lado a lado.

Será que a chuva é culpada, pela mulher clandestina, que não tem o CPF porque é caro, e por isso não registrou os filhos, o que impede de se inscrever no bolsa família, que faz faxina, mas não tem carteira assinada, que não passou da quarta série, pois veio do interior para trabalhar na casa de família e não para estudar, que mora na beira do precipício, no barraco que chama de próprio (pois comprou por dois mil reais, é próprio)? Se clandestina é a sua própria vida, também será a energia e a água do fio e do cano improvisados.

Enquanto apontamos para os aterros de lixos nas encostas, esquecemos dos nossos próprios hábitos de jogar lixo nas ruas. Creio que advenha dessa ideologia burguesa de que na rua fica tudo o que “não presta”, mendigos, meninos de rua, mulheres da vida, vagabundos, ladrões... Irrita-me, mas não me surpreende, pessoas jogando lixo na rua de dentro de carros e coletivos, jogando no chão ao lado da lata de lixo. São as mesmas pessoas que ficam ilhadas com os alagamentos. Mas a culpada é a chuva. Falta de saneamento, drenagem, pavimentação, nada disso conta nessas horas, apenas a maldita chuva.

Como algo que acalentava meus sonhos, que meu pai chamava de seresteiro, foi se tornando tão cruel, o monstro que sai de baixo da cama e invade a casa? Fico com a frase de Brecht que fala de violência, e como falar de urbanização sem falar de violência? O que chamam fatalidade eu denuncio violência!

“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem” Brecht

Arca de Noé, 30 de Junho de 2010

domingo, 13 de junho de 2010

Sobre uma ética feminina

Como pode querer que a mulher vá viver sem mentir? Diz a canção. Concordo em gênero, número e grau. Cotidianamente me deparo com algumas situações que rodeiam o mesmo tema, a mentira, não qualquer mentira mais mentiras que apenas as mulheres contam.

Esta semana, uma amiga me contava que sentia remorso por esconder da mãe que passaria um final de semana com o namorado, a outra lamentava de nunca ter podido dividir com a mãe aspectos sobre a sua vida sexual, e uma outra amiga que comentava que sua mãe sabia de tudo, mas, seu pai não. Pois bem, quatro mentirosas. Você pode me perguntar “Mas, não eram três amigas, porque 04 mentirosas?” Você pode até achar que eu seria a quarta mentirosa, apesar de também ser mentirosa, não é de mim que estou falando, não diretamente, acredite ou não. A quarta mentirosa é a mãe da nossa amiga, ou no popular a alcoviteira.

Mentir embora seja uma opção, é quase uma imposição. Friso bem o quase, pois a atmosfera em que nós mulheres estamos submersas quase nos aniquila as possibilidades. Optar por dizer a verdade é um risco, a dúvida é o preço da pureza, não é o que diz uma outra canção? E, é inútil ter certeza. Arriscar-se a perder a confiança de quem deposita em nós todas as expectativas de moralidade, de quem sabe melhor que nós que esta moralidade é uma imagem de fotografia na sala da casa.

Voltando as mentirosas, passemos os olhos na quarta mentirosa: a alcoviteira. Ela mente para o marido escondendo as safadezas da filha. Ela que já foi filha. Ela que já sabe bem o que é mentir. Fingir que não gosta de sexo, e depois fingir que sente prazer, paradoxal não? Ouvir e aconselhar: ela também pode optar a mentir para a filha “somos mais controladas que os homens, é da natureza deles ser assim, e é da nossa natureza ser assado, você pode e deve se manter pura e casta até o casamento”, mas, e isto ainda existe? Existe. Ela pode ainda optar por dizer a verdade, numa cumplicidade a duas “tome os devidos cuidados, você não pode engravidar, se não todo mundo vai saber”. Se a igreja conseguisse proibir os contraceptivos como consegue que o Estado proíba o aborto, teríamos, com certeza um novo tráfico, o tráfico de camisinhas.

Também me lembrei de outra mentirosa, ela fez um aborto, tomou um remédio e teve uma hemorragia violenta, no hospital, a enfermeira desconfiou do que se tratava, a menina mentiu. Mas, não teve jeito uma mentirosa reconhece a outra, a diferença é que as vezes nos deparamos com alcoviteiras e em outras com figuras penosas moralizadoras carrascas de si e de todas. A enfermeira num ímpeto de violência negligenciou a nossa amiga mentirosa, que pra ela agora era mais que isso era uma criminosa. E a enfermeira quem era? Juíza e algoz, julgou, condenou e ela mesma aplicou o castigo.

Marilena Chauí fala em determinada obra da violência que nós mulheres vivenciamos desde que nos entendemos por gente, essa violência por vezes silenciosa e surda: opressão, essa violência que até nós mesmas mulheres compactuamos, ela nos é tão íntima, que tomamos para nós. Julgamos nossas irmãs, suas roupas, seu corpo, seu ir e vir, sua liberdade. Participamos da animalização do nosso gênero nos comparando com as mulheres galinhas, as vacas, as piranhas.

Algumas mulheres mentem tanto que chegam a acreditar na própria mentira, sob o fetiche da moralidade se acham diferentes umas das outras. Assumem o debate medíocre de identidade, não sou freira, nem sou puta, nem mãe-esposa... Ora sou mulher, mas que isso sou humana, mas enquanto for tratada como mulher, reivindicarei como mulher. Enquanto nos impuserem modelos de comportamento moralizante, mentiremos, enquanto utilizarem a “verdade” como dom de iludir, iludiremos. Querem santas? Terão, nós santinhas do pau oco!


Jardim do éden, 13 de junho de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ser ou não ser... Mulher?!

“Oh, Mana tenho novidades pra você, eu sou alguém.
Tomara que você também ache que é alguém”
A cor púrpura.


Dia da mulher é todo dia, ou pelo menos deveria ser, por isso gostaria de sugerir umas reflexões sobre esta data sem correr o risco de cair no anacronismo.

No dia 08, presenciei em vários momentos, mulheres sendo questionadas sobre o porque do dia das mulheres, e as respostas as mais diversas: “temos um dia só nosso porque somos maravilhosas, perfeitas...” e outras lembravam o fato histórico das operárias assassinadas nos EUA.

Mulheres são e não são maravilhosas. Somos muitas, diversas, somos ao mesmo tempo: Alice e a Rainha de Copas, Amélia e Pagu, Maria e Madalena. E definitivamente não somos perfeitas. Assim como os homens somos seres humanos complexos.

Penso eu, que a ocorrência de um dia das mulheres seja uma tentativa de alcançar uma visibilidade, e em partes é também a expressão dessa visibilidade. Em partes porque as conquistas dos movimentos feministas e de mulheres esbarram em valores muito arraigados, cristalizados tanto pelo poder ideológico das religiões, como da ciência, pois durante muito tempo uma ciência higienista tratou de estudar a mulher como um ser pernicioso, um caso de saúde pública.

Os avanços que temos se devem a luta das mulheres, mas localizam-se em uma dada conjuntura, e encontram seus limites, como por exemplo, é muito interessante para o mercado incorporar a mão de obra feminina no período de guerras quando os homens estão nos campos de batalhas. Ou quando é muito libertário admitir a sexualidade das mulheres em revistas que vendem as dez maneiras de enlouquecer seu homem na cama.

Nada contra enlouquecer seu homem na cama, mas existe uma ideologia embutida nesta expressão. É a eterna função de servir ao homem. Porque não 10 maneiras de enlouquecer junto com seu homem ou sua mulher na cama? Antropólogas e antropólogos, historiadoras e historiadores deram conta de explicar que esta função social de servir tem origem, é cultural e histórica. Portanto se é histórica e teve uma origem, também pode ter um fim, a história quem fazemos somos nós. E se é cultura não é algo natural, não depende das diferenças biológicas, depende das diferenças que construímos em tornos dos sexos. Ofereço-lhes o enigma de Engels na Origem da família, da propriedade privada e do Estado “A derrota histórica do sexo feminino” Quando isso se deu? Não quero dar conta desta questão neste texto, mas é uma boa reflexão para quem ainda não buscou algo sobre o tema.

Então ser ou não ser mulher? Ser alguém é também ser mulher! Ser mulher é também ser alguém! Se ainda há necessidade de termos um dia é para que façamos um balanço das conquistas e das estratégias. É para lembrar a humanidade que um dia nós não tínhamos se quer alma para a igreja, ou éramos qualquer espécie sub-humana para a ciência. Um dia para que vislumbremos os novos dias, quando novas páginas serão escritas por mulheres e homens livres e iguais. E ainda, um dia para que muitas mulheres belas adormecidas acordem do sono do consentimento. A tomada de consciência é um processo, a cada dia enxergo um pouco mais e ainda estou tão distante da totalidade, distante do que de fato está por trás da grande engrenagem que nos faz homens e mulheres infelizes. De fato, ter consciência não nos tira da infelicidade, apenas nos coloca cara a cara com ela. Saber não muda o mundo, mas impulsiona ás mudanças. E assim fico aqui com um trecho de um pensamento de Clarice Lispector:

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
[...]

E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.
Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade
- essa clareza de realidade
é um risco.
[...]

A lucidez perigosa

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Eu prefiro a Paulicéia Desvairada


Ao invés de encontrar um santo SÃO PAULO, deparo-me com uma singela pecadora de codinome Paulicéia Desvairada. É daquelas mulheres que não serve para casar, apenas para viver uma aventura. Ninguém aguentaria suas crises de TPM, do tamanho do seu território. TPM que engarrafa o trânsito, milhões de passadas inquietas pelo centro, apressadas, apressadas e os sanduíches de MORTANDELA que se engole sem mastigar, porque a Paulicéia tirana tem pressa.
Ninguém aguentaria a menina desvairada que de repente se ver na menopausa com uma confusão de temperaturas, efeito cebola, efeito estufa, ai que calor! E daqui a pouco, ai que frio! Poxa Paulicéia me deixa visitar o mirante, daqui a pouco eu vou embora "tenha paciência, que aqui mando eu!"
Mas, Paulicéia é um amor: após as 19h a paulista fica linda, linda e iluminada, moderna e ao mesmo tempo clássica, apenas a Alameda Santos compete com tanto charme. Paulicéia e seus segredos, pequenos bosques espalhados pela cidade, e o lindo parque Ibirapuera, refúgio. Desvairada e sua arte, antropofágica, museus: do futebol, Afro, da língua portuguesa, pinacoteca, teatros. Baladas na Vila Madalena, baladas cubanas. Tem a arte, é Rita Lee e é Pagu.
GENEROSA, acolhe o mundo em seu seio maternal, é parece que a tpm passou... COSMOPOLITA, basta um passeio no Bom retiro, são judeus e armênios, ou na liberdade... São sotaques, cores que fazem da Paulicéia um mosaico. Mas, é também CONTRADITÓRIA, construída com o suor de nordestinos, lhes castiga, lhes relega a toda a sorte de outro santo SÃO MIGUEL. Meu sotaque por aqui não é novidade, meu T e meu D falado entre os dentes não impressiona, mas também não diferencia, é baiano ou paraíba... é pernambucano, é brasileiro, oxente!
Esta Mulher Paulicéia me encanta, altiva e pequeno burguesa, operária e imigrante. Moderna e clássica. Complexa, dialética, bela! E, é pra casar sim, mas não é monogâmica e nem heterosexual. Ela casa e descasa, ela acolhe e castiga, ela dá pra qualquer um. Ela é de direita conflitando com as manifestações de esquerda em frente ao MASP, ela reprime, ela oferece, ela nega, ela vende, ela veda, ela, ela toda ela. Inteira e fragmentada.
Amanhã eu me descaso dela, como boas amigas, volto outro dia para visitar. Perdôo a chuva, são caprichos e uma mulher entende a outra. Agradeço a acolhida, o gosto de sol resistindo a neblina, as belezas as feiúras, a carne viva escancarando as feridas para que eu não me iluda. Agradeço a sinceridade, que reafirma qual o lado que devo sambar, é do teu lado mais agressivo, que não é só teu, é do Brasil e é do mundo. Adeus desvairada, até a próxima temporada!

Guarulhos, 09 de Abril de 2010.
Tatiane Melo