sexta-feira, 9 de abril de 2010

Eu prefiro a Paulicéia Desvairada


Ao invés de encontrar um santo SÃO PAULO, deparo-me com uma singela pecadora de codinome Paulicéia Desvairada. É daquelas mulheres que não serve para casar, apenas para viver uma aventura. Ninguém aguentaria suas crises de TPM, do tamanho do seu território. TPM que engarrafa o trânsito, milhões de passadas inquietas pelo centro, apressadas, apressadas e os sanduíches de MORTANDELA que se engole sem mastigar, porque a Paulicéia tirana tem pressa.
Ninguém aguentaria a menina desvairada que de repente se ver na menopausa com uma confusão de temperaturas, efeito cebola, efeito estufa, ai que calor! E daqui a pouco, ai que frio! Poxa Paulicéia me deixa visitar o mirante, daqui a pouco eu vou embora "tenha paciência, que aqui mando eu!"
Mas, Paulicéia é um amor: após as 19h a paulista fica linda, linda e iluminada, moderna e ao mesmo tempo clássica, apenas a Alameda Santos compete com tanto charme. Paulicéia e seus segredos, pequenos bosques espalhados pela cidade, e o lindo parque Ibirapuera, refúgio. Desvairada e sua arte, antropofágica, museus: do futebol, Afro, da língua portuguesa, pinacoteca, teatros. Baladas na Vila Madalena, baladas cubanas. Tem a arte, é Rita Lee e é Pagu.
GENEROSA, acolhe o mundo em seu seio maternal, é parece que a tpm passou... COSMOPOLITA, basta um passeio no Bom retiro, são judeus e armênios, ou na liberdade... São sotaques, cores que fazem da Paulicéia um mosaico. Mas, é também CONTRADITÓRIA, construída com o suor de nordestinos, lhes castiga, lhes relega a toda a sorte de outro santo SÃO MIGUEL. Meu sotaque por aqui não é novidade, meu T e meu D falado entre os dentes não impressiona, mas também não diferencia, é baiano ou paraíba... é pernambucano, é brasileiro, oxente!
Esta Mulher Paulicéia me encanta, altiva e pequeno burguesa, operária e imigrante. Moderna e clássica. Complexa, dialética, bela! E, é pra casar sim, mas não é monogâmica e nem heterosexual. Ela casa e descasa, ela acolhe e castiga, ela dá pra qualquer um. Ela é de direita conflitando com as manifestações de esquerda em frente ao MASP, ela reprime, ela oferece, ela nega, ela vende, ela veda, ela, ela toda ela. Inteira e fragmentada.
Amanhã eu me descaso dela, como boas amigas, volto outro dia para visitar. Perdôo a chuva, são caprichos e uma mulher entende a outra. Agradeço a acolhida, o gosto de sol resistindo a neblina, as belezas as feiúras, a carne viva escancarando as feridas para que eu não me iluda. Agradeço a sinceridade, que reafirma qual o lado que devo sambar, é do teu lado mais agressivo, que não é só teu, é do Brasil e é do mundo. Adeus desvairada, até a próxima temporada!

Guarulhos, 09 de Abril de 2010.
Tatiane Melo