quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ser ou não ser... Mulher?!

“Oh, Mana tenho novidades pra você, eu sou alguém.
Tomara que você também ache que é alguém”
A cor púrpura.


Dia da mulher é todo dia, ou pelo menos deveria ser, por isso gostaria de sugerir umas reflexões sobre esta data sem correr o risco de cair no anacronismo.

No dia 08, presenciei em vários momentos, mulheres sendo questionadas sobre o porque do dia das mulheres, e as respostas as mais diversas: “temos um dia só nosso porque somos maravilhosas, perfeitas...” e outras lembravam o fato histórico das operárias assassinadas nos EUA.

Mulheres são e não são maravilhosas. Somos muitas, diversas, somos ao mesmo tempo: Alice e a Rainha de Copas, Amélia e Pagu, Maria e Madalena. E definitivamente não somos perfeitas. Assim como os homens somos seres humanos complexos.

Penso eu, que a ocorrência de um dia das mulheres seja uma tentativa de alcançar uma visibilidade, e em partes é também a expressão dessa visibilidade. Em partes porque as conquistas dos movimentos feministas e de mulheres esbarram em valores muito arraigados, cristalizados tanto pelo poder ideológico das religiões, como da ciência, pois durante muito tempo uma ciência higienista tratou de estudar a mulher como um ser pernicioso, um caso de saúde pública.

Os avanços que temos se devem a luta das mulheres, mas localizam-se em uma dada conjuntura, e encontram seus limites, como por exemplo, é muito interessante para o mercado incorporar a mão de obra feminina no período de guerras quando os homens estão nos campos de batalhas. Ou quando é muito libertário admitir a sexualidade das mulheres em revistas que vendem as dez maneiras de enlouquecer seu homem na cama.

Nada contra enlouquecer seu homem na cama, mas existe uma ideologia embutida nesta expressão. É a eterna função de servir ao homem. Porque não 10 maneiras de enlouquecer junto com seu homem ou sua mulher na cama? Antropólogas e antropólogos, historiadoras e historiadores deram conta de explicar que esta função social de servir tem origem, é cultural e histórica. Portanto se é histórica e teve uma origem, também pode ter um fim, a história quem fazemos somos nós. E se é cultura não é algo natural, não depende das diferenças biológicas, depende das diferenças que construímos em tornos dos sexos. Ofereço-lhes o enigma de Engels na Origem da família, da propriedade privada e do Estado “A derrota histórica do sexo feminino” Quando isso se deu? Não quero dar conta desta questão neste texto, mas é uma boa reflexão para quem ainda não buscou algo sobre o tema.

Então ser ou não ser mulher? Ser alguém é também ser mulher! Ser mulher é também ser alguém! Se ainda há necessidade de termos um dia é para que façamos um balanço das conquistas e das estratégias. É para lembrar a humanidade que um dia nós não tínhamos se quer alma para a igreja, ou éramos qualquer espécie sub-humana para a ciência. Um dia para que vislumbremos os novos dias, quando novas páginas serão escritas por mulheres e homens livres e iguais. E ainda, um dia para que muitas mulheres belas adormecidas acordem do sono do consentimento. A tomada de consciência é um processo, a cada dia enxergo um pouco mais e ainda estou tão distante da totalidade, distante do que de fato está por trás da grande engrenagem que nos faz homens e mulheres infelizes. De fato, ter consciência não nos tira da infelicidade, apenas nos coloca cara a cara com ela. Saber não muda o mundo, mas impulsiona ás mudanças. E assim fico aqui com um trecho de um pensamento de Clarice Lispector:

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
[...]

E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.
Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade
- essa clareza de realidade
é um risco.
[...]

A lucidez perigosa