domingo, 5 de novembro de 2017

Soluços do mundo
02/11/2017

O mundo está mais perto
Graças a tela do computador
A dor do mundo está em tela
Nos documentos oficiais, nos tratados,
E convenções mundiais

Tudo é civilizado e moderno
A era é dos direitos...
Inconcretos

A intolerância está mais perto
Na pedra no caminho
Na fé
Na religião
No sujeito imperfeito a sua imagem e semelhança

A fogueira está mais perto
O calor da censura no cangote
O bafo quente da moral e maus costumes
Na classificação indicativa dos desclassificados

A fome e a falta estão mais perto
Pulsando na boca do estômago
Assaltaram nossas vidas
Não haverá linchamento público

O mundo está soluçando

No colo do universo

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Minha natureza é elástica
Sou flexível
Eu dilato
Eu me expando
E de mim saem explosões
E assim acreditei caber em qualquer lugar
Mas não de qualquer jeito
Não de qualquer forma
Da minha forma
Fora da fôrma
Do quadrado, da caixinha
E ando por aí forçando portas
Pulando janelas
Tecendo as possibilidades
Se não me cabe
Construo novo alicerce
Ou uma nave
Sou toda trabalhada na vontade
Entorto mas não quebro!


01/09/2016

domingo, 28 de agosto de 2016

Por que Deus não vem logo
e cessa essa via-crúcis?
Por que não nos livra do destino cruel de ser cordeiro?
Cansamos de ser sacrificadas
em nome da moral e dos bons costumes
Cadê a proteção de Maria para a menina estuprada
aos 10 anos de idade?
E o crime/pecado de Eva não prescreve nunca?
Ora venha logo, que o inferno é aqui mesmo
as fogueiras continuam a queimar!

Tatiane
02/06/2016



segunda-feira, 30 de maio de 2016

Entre a cultura do estupro, a patologização e a moralização do sexismo


Ao ver os comentários nas redes sociais sobre o estupro sofrido por uma jovem de 16 anos, vítima de 30 homens e ainda sendo exposta na internet por um vídeo que comprova o crime, chego a uma conclusão apressada, mas não irracional: nós temos limitações em reconhecer a violência como uma construção social, e estas limitações se alargam quando a violência tem uma base sexista.
Um ponto interessante das redes sociais é que todo mundo tem a oportunidade de opinar, mesmo que as opiniões reflitam preconceitos e discriminações, como também sirvam para ocultar o real problema por trás das aparências.  Percebi que os argumentos tem se apresentado em 04 direções: A primeira é a forma sexista escancarada, preconceituosa que culpabiliza a vítima por viver sua sexualidade. A segunda, sexista mascarada, enverada pelo argumento moralista apelando para um problema moral, que coloca a culpa no homem mau, não cristianizado. A terceira coloca o agressor como um doente, um psicopata. E a última a posição das feministas, boa parte delas colocam na conta do patriarcado, ou seja, apostam na estruturação do sexismo como o grande vilão.
A primeira direção das opiniões, a com base no machismo, explicita mesmo como a violência tem sua base material e simbólica, junto aos 30 homens que violentaram o corpo e a subjetividade de uma jovem, estão mais  de 30 mil  pessoas que praticam um estupro simbólico. A segunda linha de pensamento que reivindica que aqueles 30 homens eram apenas maus e que este mau-caratismo nada tem a ver com uma cultura patriarcal que naturaliza o estupro, me faz refletir, e por que não vemos casos corriqueiros de 30 mulheres estuprando, com cabo de vassoura, um homem adultero????? E por que que quando se trata de “maldades” que envolvem a questão sexual, as mulheres são uma minoria que mal conseguimos dizer que são recorrentes? Será que o espectro do mal só assombra os homens? Ao que parece o maniqueísmo não é mesmo arcabouço feminista como insistem os detratores do feminismo.
Quanto a visão patológica, assim como aquela que liga violência ao uso de drogas, penso que seria muita coincidência 30 psicopatas juntos na mesma hora e no mesmo local.  Me parece mesmo que a tese das feministas é no mínimo e ao largo a mais plausível, nossas subjetividades são construídas objetivamente, nós compomos a sociedade e suas regras morais, assim como os mecanismos de regulação. Sim construímos, mas de que maneiras? Por meio das relações de poder, e de certa forma, reproduzimos dadas as condições históricas, e desconstruímos também dadas as condições históricas. É urgente o tempo de desconstruir a cultura da violência sexista. E nesse enfrentamento é inegável a vanguarda feminista com a sua luta pela vida das mulheres!

terça-feira, 24 de junho de 2014

Perdendo dentes

Ela é miudinha, loirinha, pele queimada de sol, cabelos maltratados, assustados como ela mesma. Os olhinhos espertos e a boca cheinha de dentes podres, por isso ela não sorri. Seu nome é estrangeiro, mas ela é brasileira.
         Ela é de verdade, embora não tenha registro de nascimento, pois sua mãe também não tem. Eu a conheci e desde então as coisas que acontecem com ela me angustiam muito.
            Vítima da negligência de Estado, essa garotinha não frequentava a escola e já tinha 6 anos de idade, mora em um lugar péssimo... como tantas outras crianças, são tantas violações de direitos que entristece quem conhece o drama dela. Imagina o que ela deve sentir.
            Outro dia ela foi socorrida pelo pessoal da escolinha, que havia acolhido a menininha mesmo sem ter a documentação. Os sintomas eram febre e dor de dente, o dentista do posto deu o diagnóstico: infecção, todos os dentes estavam podres.
 É tão normal uma menininha de 6 anos perder os dentinhos de leite. Exibir orgulhosa as janelinhas e guardar o dente para a fadinha do dente levá-lo e  deixar um real no lugar.  Não tem espaço para o conto de fadas na realidade dura que é a vida desta criança.

                                    
                                                                                                                  24 de Junho de 2014

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Da série: Por onde andei!

Já postei em 2009 um texto sobre São Paulo, tenho alguns sobre outras cidades, mas, quero recomeçar com o meu Recife!

Hábitos e manias



Tenho o hábito de repetir tudo o que eu gosto, tenho o hábito de criar hábitos. Quando eu e minha irmã eramos crianças, meu pai nos levava ao centro da cidade e na volta para casa pegavamos o ônibus fazendo o retorno, de preferência o antigo Dois Irmãos Caxangá que passava pelo prédio da prefeitura do Recife, só para irmos sentados cada um na sua janela admirando as pontes, o marco zero, e as ruas do Recife antigo. Sem falar da famosa paradinha no chá mate, tomar um mate gostoso e comer os salgados saborosos e baratos por trás do prédio dos correios. Até hoje quando vou para aquelas bandas, eu só volto para casa pegando o retorno dos ônibus.

Adoro andar pelas ruas de comércio do centro da cidade, minha mãe me levava onde se compra cada coisa, enxoval de bebê, roupa de cama, linha, elástico. Volta e meia estou por lá, entre os mascates, no meios das cores e das bugingangas.

E Vovó, nos arredores do mercado de São José comprando frutas e temperos, passeando por dentro do mercado, amocegando artesanatos e achando tudo caro. Toda quinta, para mim, é dia de ir até o mercado comprar flores pra santa Sara, vela amarela para oxum, ervas para tomar banho.

Para mim, viver o Recife é andar, andar e andar no meio da gente, das coisas, dos carros, pra cima e pra baixo, no meio da desordem, aquelas bandas do centro é meio India, meio Marrocos, e tá cheinha de chinês e vez por outra tem uns colombianos ou bolivanos tocando na praça de São Félix.


 


domingo, 2 de dezembro de 2012


Passei um tempo sem escrever, e foi o melhor, tagarelar e vomitar infelicidades não tem utilidade. Compartilhar reflexões, notícias, coisas belas é o meu objetivo, portanto, estou voltando...