sexta-feira, 5 de outubro de 2012

"Deixa, deixa eu dizer o que sinto desta vida, preciso demais desabafar..."

Não me lembro exatamente o dia, o fato, que me fez me perceber enquanto um ser político. Lembro-me de alguns momentos quando no catecismo eu me angustiava por não conseguir acreditar que Eva era feita da costela de Adão. Quando comecei a desconfiar de mitos e mentiras, quando comecei a questionar porque primos podiam brincar o sábado todo e eu e minha irmã só após ajudar minha mãe nos serviços domésticos.

Desde a juventude, me juntei e misturei com os rebeldes, aprendi muito, mas sei pouco, e o pouco que sei é o suficiente pra incomodar. É uma pontinha da lucidez perigosa. E é por isso que hoje, não estou tranquila diante das opções para governar o Recife.

Por 04 vezes me emocionei no Marco 13, quando mesmo antes de completar 18 anos dei meu primeiro voto a João Paulo e posteriormente a sua reeleição, já com João da Costa não tive o mesmo entusiasmo, João era a identidade forjada de João. Já com Lula, a emoção era transbordante, era um ex operário, nordestino, pardo, pobre (pelo menos foi pobre) que chegava ao poder, depois, uma mulher desafiando a cultura machista. Eu me encantei pelo mito, pela identidade, pela possibilidade extraordinária de iniciar uma nova cultura, não tinha grandes ilusões com a transformação, mas era seduzida por algo como um etapismo. Vamos disputar por dentro, pensava eu entusiasmada.

Se hoje tenho algumas certezas, uma delas é que a identidade diluiu a classe: ele é do povo, ele é a cara do povo, mas sua opção de classe diluiu-se, reificou-se. E ela, é mulher, mas não é feminista, não confundamos, seu sexo não é sua opção de classe. A mulher guerrilheira, o proletário grevista, onde foram parar? O PT que defendia os trabalhadores cadê? Concilia-se com a burguesia, e corta o ponto dos trabalhadores. Eu sei, eu sei, o PT é múltiplo, mas o PT que governa, que preside, agride meu ser político, é uma violência!

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