Ao ver os comentários nas redes sociais sobre o estupro sofrido por uma
jovem de 16 anos, vítima de 30 homens e ainda sendo exposta na internet por um
vídeo que comprova o crime, chego a uma conclusão apressada, mas não
irracional: nós temos limitações em reconhecer a violência como uma construção
social, e estas limitações se alargam quando a violência tem uma base sexista.
Um ponto interessante das redes sociais é que todo mundo tem a
oportunidade de opinar, mesmo que as opiniões reflitam preconceitos e
discriminações, como também sirvam para ocultar o real problema por trás das
aparências. Percebi que os argumentos
tem se apresentado em 04 direções: A primeira é a forma sexista escancarada,
preconceituosa que culpabiliza a vítima por viver sua sexualidade. A segunda,
sexista mascarada, enverada pelo argumento moralista apelando para um problema
moral, que coloca a culpa no homem mau, não cristianizado. A terceira coloca o
agressor como um doente, um psicopata. E a última a posição das feministas, boa
parte delas colocam na conta do patriarcado, ou seja, apostam na estruturação
do sexismo como o grande vilão.
A primeira direção das opiniões, a com base no machismo, explicita mesmo como
a violência tem sua base material e simbólica, junto aos 30 homens que
violentaram o corpo e a subjetividade de uma jovem, estão mais de 30 mil pessoas que praticam um estupro simbólico. A
segunda linha de pensamento que reivindica que aqueles 30 homens eram apenas
maus e que este mau-caratismo nada tem a ver com uma cultura patriarcal que
naturaliza o estupro, me faz refletir, e por que não vemos casos corriqueiros
de 30 mulheres estuprando, com cabo de vassoura, um homem adultero????? E
por que que quando se trata de “maldades” que envolvem a questão sexual, as
mulheres são uma minoria que mal conseguimos dizer que são recorrentes? Será
que o espectro do mal só assombra os homens? Ao que parece o maniqueísmo não é mesmo
arcabouço feminista como insistem os detratores do feminismo.
Quanto a visão patológica, assim como aquela que liga violência ao uso de
drogas, penso que seria muita coincidência 30 psicopatas juntos na mesma hora e
no mesmo local. Me parece mesmo que a
tese das feministas é no mínimo e ao largo a mais plausível, nossas
subjetividades são construídas objetivamente, nós compomos a sociedade e suas
regras morais, assim como os mecanismos de regulação. Sim construímos, mas de
que maneiras? Por meio das relações de poder, e de certa forma, reproduzimos
dadas as condições históricas, e desconstruímos também dadas as condições
históricas. É urgente o tempo de desconstruir a cultura da violência sexista. E nesse enfrentamento é inegável a vanguarda feminista com a sua luta pela vida das mulheres!
Li com a convicção de que encontraria as reflexões mais lúcidas sobre o problema, esse problema-monstro que nos assombra e nos sufoca todos os dias, até silenciar a existência de muitas de nós. Dói. Mas juntas, pouco a pouco vamos nos unindo e é lindo como isso acontece, porque somos solidárias umas com as outras e vamos transmitindo isso com amor, mas também com muita determinação. Cada uma com seu jeito, suas possibilidades... e vamos transformando por aí...
ResponderExcluirGostei do blog Tati! Bjs!
Obrigada Israelle, vamos juntas!
ResponderExcluirQue texto maravilhoso. Trouxe algo de diferente de tudo que já li a respeito e me respondeu alguns questionamentos. Muito bom.
ResponderExcluirQue bom Laíse, beijos
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